Review: Ed Motta - Perpetual Gateways (2016)

por: Marcelo Donati

Ed Motta prova sua inquietude musical, sempre buscando incansavelmente ultrapassar as barreiras da música fácil, compondo e gravando em vários estilos musicais, sem querer ficar preso ao funk e pop que marcaram boa parte de sua carreira. E atesta sua competência de, em meios a grandes músicos, fazer bonito e botar todo seu talento à prova.

Acompanho a carreira de Eduardo Motta há algum tempo e posso dizer que as palavras que permeiam sua nau musical são: evolução e liberdade. Nunca preso a modismos nem a rótulos, Ed Motta vem mostrar em Perpetual Gateways, mais uma vez, uma música de gente grande, em referência óbvia ao rótulo AOR - adult oriented rock, título de seu disco anterior. E a música de gente grande agora é acompanhada por músicos de gente grande, como Greg Phillingaines (Michael Jackson, Eric Clapton, Toto) Patrice Rushen, Hubert Laws, e muitos outros kats de estúdio.


A direção estilistica do álbum 'Perpetual Gateways' (LAB, 2016) parece a princípio uma continuação do AOR, como demonstram as primeiras faixas do disco. Mas conforme a audição prossegue, a piscina fica cada vez mais funda, ao aparecerem elementos do jazz, do spiritual jazz, do soul, e das baladas. O disco é dividido em dois 'portões', como fica claro no encarte: o lado soul e o lado jazz. As 5 primeiras músicas trazem a etiqueta soul recheada com vários sabores e cores. E as 5 faixas finais rotuladas simplesmente jazz evocam as várias vertentes do estilo. 

Informações técnicas: O disco foi gravado em Pasadena, California. E lançado no mundo pelo selo Membran / Must Have Jazz. Todas as músicas e letras são de autoria de Ed Motta, que também tocou Rhodes em várias faixas do disco, e foi o arranjador de 9 das 10 músicas.

Sob a produção musical de Kamau Kenyatta, a principal diferença deste para todos os outros discos lançados por Ed, é a ausência total de guitarras. Apesar de, como guitarrista, ter achado um pouco estranha essa ausência no disco, dei mais uma vez voto de confiança para as escolhas do artista tijucano. Que sempre procura surpreender positivamente seus ouvintes.

Introdução feita, passemos a uma análise faixa-a-faixa:

'Captain's Refusal' começa exalando ares de Aja (Steely Dan) em seu começo. O clavinet tocado por Greg Phillingaines dita o ritmo. E o final com várias viradas de bateria de Marvin Smith invoca mais uma vez a canção Aja. Ou seja, Ed não tem medo nem vergonha de explicitar suas referências e influências, mesmo que subjetivas.

O shuffle da bateria e o Rhodes indefectível de Ed Motta delineam a faixa 'Hyponchondriac's Fun'. Os metais relembram o clima do disco anterior (AOR). Um solo monsotr de piano (dá-lhe Greg!) encerra o tema.

Em 'Good Intentions', a voz de Ed se destaca pela potência e amplitude. O baixo de Cecil Mc Bee possui uma frase em loop que hipnotiza o ouvinte. A melodia complexa da parte B evidencia o clima 'parte funda da piscina' e antecipa o solo de piano de Patrice Rushen.

A voz bem na cara (saltando aos ouvidos) comprova a boa forma de Ed em 'Reader's Choice'. Em específico, a dobra da voz na frase 'Privacy' é bem interessante. O solo é feito pelo trumpet de Rickey Woodard.

O baixo e o ritmo de 'Heritage Déjà Vu' lembram a fase do disco Dwitza. E a linha melódica traz de volta os tempos dos 'Manuais'. Faixa dançante mas sem perder o clima sofisticado do álbum. O solo fica a cargo da lady Patrice Rushen. Interessante é que o timbre vintage e anasalado do baixo aparece bem na mix.

Começado o lado jazz do disco, a balada 'Forgotten Nickname' com seu Rhodes vibrando em estéreo é minha predileta até então. Ouvimos esta nos bastidores de um show em 2011, quando Ed gentilmente compartilhou suas ideias pra gente. E só agora a ideia viu a luz do dia e virou este belo tema.
Algo da melodia traz momentos do disco 'Chapter 9', e a voz no refrão é de arrepiar. O baixo acústico de Tony Dumas acompanha a sofisticação do piano de madame Rushen e da flauta do mestre Hubert Laws.

O jazz 'escancarado' de 'The Owner' leva o disco a alguns degraus acima dos meros artistas mortais. Solos de piano e trumpete dignas dos álbuns da fase jazzística de Herbie Hancock.

Há uma urgência na voz de Ed em 'A Town in Flames'. Como bem lembrou meu amigo Magnum Freire Nobre, há um clima do disco 'Aystelum', que foi um dos primeiros discos em que Ed teve coragem de mostrar sua faceta afro jazz,
Apesar do clima tenso e caótico da banda, reina uma clima que remete a um musical evidenciado na melodia do refrão. A cereja do bolo é o solo de flauta de Hubert Laws. E o solo em estéreo de Rhodes vai te deixar hipnotizado se você estiver ouvindo nos fones como eu.

O dueto da voz com os metais em 'I Remember Julie' é ousado, e a letra irônica provoca os hipster e indies. Mas no contexto instrumental, não há espaço para brincadeiras nem ironias. O papo é deep, véi! 

O baixo de Tony Dumas abre os caminhos do tempo composto da música de encerramento, 'Overblown Overweight', e as vozes no refrão são mais uma grata surpresa. Charles Owens (sax) é a outra surpresa. Esta música ganhou um clipe produzido pela tv francesa Culture Box, pelo selo Membran e pelo grupo 'Must Have Jazz'.




Comentários

  1. Perpetual gateways para download:

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  2. Perpetual gateways para download, FLAC + Scans:

    http://nitroflare.com/view/E5DC57C050C8F16/EMo-PerGa-16HQ.rar

    http://alfafile.net/file/SAvg

    Only Flac:

    http://uploaded.net/file/7czoys3n

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